O que acontece se você não fizer a saída definitiva do Brasil?
- Pontes Vieira Advogados
- há 4 dias
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Por Iure Pontes Vieira — Advogado Tributarista Internacional
📌 Introdução
Muitos brasileiros se mudam para o exterior acreditando que basta “parar de declarar imposto de renda” para deixar de ter obrigações fiscais no Brasil.Mas não é bem assim.
Enquanto a Receita Federal não for oficialmente informada da sua saída, você continua sendo considerado residente fiscal no Brasil — mesmo morando fora há anos.E isso pode trazer consequências sérias: multas, cobranças indevidas, bloqueio de CPF e até bitributação.
O que significa “ser residente fiscal”
A legislação brasileira considera residente fiscal toda pessoa que:
vive no Brasil, ou
saiu do país, mas não comunicou oficialmente sua saída, ou
permanece no exterior há menos de 12 meses sem a declaração de saída definitiva.
Enquanto você for residente fiscal, a Receita entende que deve declarar todos os seus rendimentos, inclusive aqueles recebidos no exterior.
Isso significa que mesmo morando em outro país, se a saída não for comunicada, a Receita ainda espera que você entregue a declaração anual de imposto de renda no Brasil.
O que acontece se você não fizer a saída definitiva
1️⃣ Você continua sendo tratado como residente fiscal
Mesmo sem morar no Brasil, o sistema da Receita continuará entendendo que você deve declarar rendas, bens e contas no exterior.E com os acordos internacionais de troca de informações financeiras (FATCA e CRS), a Receita já recebe dados sobre contas bancárias, investimentos e aplicações fora do país.
Desde 2025, inclusive, a declaração pré-preenchida passou a trazer automaticamente informações sobre contas bancárias e investimentos no exterior, mesmo que o contribuinte não tenha informado nada.Isso mostra que o governo já tem acesso a esses dados — e cruzará as informações com a sua condição fiscal.
Se o seu CPF ainda estiver como residente, qualquer divergência pode gerar alerta, multa e cobrança de imposto indevido.
2️⃣ Risco de bitributação
Imagine que você mora em Portugal, paga impostos sobre sua renda local e, ao mesmo tempo, a Receita brasileira entende que você ainda é residente fiscal.Nesse caso, você pode acabar sendo tributado duas vezes sobre o mesmo rendimento — uma no país onde vive e outra no Brasil.
Mesmo em países com acordos para evitar bitributação, é preciso formalizar corretamente sua condição de não residente para que esses tratados se apliquem.
3️⃣ Dificuldades práticas com o CPF e bancos
Com o CPF vinculado como residente fiscal ativo, podem surgir:
pendências ou bloqueios em sistemas de bancos brasileiros;
dificuldades na venda de imóveis ou transferências internacionais;
problemas para atualizar cadastro em corretoras ou receber aluguéis.
Algumas instituições já exigem comprovante de não residência fiscal para liberar movimentações.Sem a saída formal, isso se torna um obstáculo.
4️⃣ Multas e problemas retroativos
Quem não entrega declarações obrigatórias (ou deixa de comunicar a saída) pode receber multas automáticas, além de ficar com histórico de omissão no sistema da Receita.E mesmo anos depois, ao tentar resolver a situação, os atrasos e divergências são cobrados com juros e penalidades.
Exemplo real
Um cliente que vive na Europa desde 2019 nunca fez a saída definitiva e acreditava que bastava não declarar mais imposto no Brasil. Ao usar a declaração pré-preenchida de 2025, apareceu o registro de uma conta bancária no exterior, sem que ele tivesse informado nada. O CPF dele ainda estava ativo como residente.
Resultado: a Receita entendeu que havia omissão de rendimentos no exterior e gerou pendência. A solução foi preparar a saída definitiva retroativa, corrigir o status e ajustar os dados junto às fontes pagadoras.





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